
Fausto não era um exímio pescador. Era apenas um teimoso à beira de um rio a enfrentar todos os percalços inerentes ao hobby por horas a fio sempre trocando histórias com outros pescadores e constantemente trocando de lugar por não ter paciência. Depois de margear o rio por umas duas horas encontrou um remanso que lhe pareceu, por intuição, ser um bom local para fisgar alguns peixes. Por mais que a paciência suportava, desestimulou-se e já estava a pique de juntar suas tralhas e voltar à cidade com a capanga vazia quando, onde o rio é encoberto pela vegetação que o margeiam na curva, viu surgir lentamente uma canoa. Alguém a remava cadenciada. Fausto até se esqueceu que estava para ir embora e ficou a observar atentamente a canoa se aproxima,lenta como as águas do rio, foram dez minutos de olhos fixos. Seu condutor, um velho que o tempo fez cansar, enrrugado até onde suas vestes deixavam ver, deixou os remos, dobrou as barras da calça deixando a mostra suas sandálias franciscana, agia como se por perto não houvesse ninguém. Fausto a pouca distância não lhe chamava a atenção, ou ele fingia não ver.
Depois saltou para a água que lhe dava pé naquela prainha que mais parecia um mar em calmaria. Depois de puxar a canoa até um areal fora d'água voltou, tocou a água como se a estivesse acariciando, passou as mãos úmidas de natureza pelo rosto, as águas sulcaram suas rugas e perderam-se na areia como se fossem lágrimas. Fausto continuava observando-o a certa distância até que notou que o velho começava a encaminhar-se para junto dele, aproximou-se:
- O senhor vai pescar aqui?
- Tem algum problema meu filho?- Perguntou o velho.
Não!É que aqui não tem peixe. Já faz quase duas horas que estou aqui e nada! Nem um peixinho.
Eu sei...
Se o senhor sabe, porque também veio tentar?
- Não é pelo peixe meu filho. Eu venho é espairecer as idéias.
Aqui no mato?
- Onde mais? Na cidade de onde vens?
Não sei... Talvez se aqui houvesse peixe seria mais animador. . . Eu não consegui nem uma tilápia.
- Se gosta do frigir, porque veio para a minha solidão? E quanto à tilápia pode desistir. Pesque o quanto quiser e não lhe virá nenhuma. Sabe porque? Este rio nunca teve tilápia. Já vi que você não conhece o rio. Veio da cidade achando que tudo é fácil, que é só chegar, iscar, lançar e puxar, pronto, eis um dourado de cinco quilos. Não é bem assim. Aqui não é um mercado. Vai muito além de nossa vontade. É para quem tem o saber da meditação, principalmente sem nenhum sapo por perto. O peixe sempre será uma mera conseqüência.
- Balela...
Não é balela meu filho... - Enquanto conversava o velho iscou o anzol, lançou a chumbada e espetou a vara no barranco. Depois começou fazer um cigarro de palha, com o pé direito deu um toque na vara. Seus olhos acompanhavam atentamente o movimento da linha. Quando viu que a ponta da vara arqueou, comentou para si:- Acho que pesquei um... Talvez um dourado. - Pos o cigarro já feito na orelha, deu uma cuspidela na palma da mão, a esfregou na outra, pegou a vara e como quem já sabia o que tinha,içou das águas turvas do rio um dourado de mais de cinco quilos. Fausto ficou boquiaberto e protestou:
- O senhor nem chegou direito e já pegou um peixão destes.
Eu tenho mais de quatro horas de picada de mosquito, tentei, tentei, e nada. Só estes dois piauzinhos.- Disse ao bater de leve na capanga pendurada no ombro.- Porque?
- Não sei! Talvez por eu ser um filho do rio, de suas margens. Mas a diferença que pesa é de como agimos em relação a esta natureza que nos cerca, a mata, o rio, os animais... Eu nunca os maltratei. Eu nunca os maltratei. Eu convivo correto com a natureza desde que me entendi por gente. Vocês eu não sei. Só sabem vir aqui para poluir tudo, olhe a sua volta, eu sei que você não esta pensando em levar este lixo que você produziu e nem sempre eu estarei aqui para condená-lo. Vocês só sabem destruir. O rio não tem como lhe retribuir e se sente angustiado de não poder devolver à sua casa o mesmo descaso, que vocês poderiam sentir só se os vissem amontoados em suas salas de estar. Pobre rio... Agora me dê a sua vara e observe. - O velho lança a chumbada no mesmo ponto do rio em que antes Fausto lançara, pouco depois, após um outro toque, a ponta da vara encurva e novamente com um pequeno esforço iça de dentro d'água, não um dourado, mas um surubim de mais de dez quilos. Fausto admirou-se e mais que abismado Voltou a protestar:
Eu andei conversando com diversos pescadores aqui da região e todos eles me disseram que neste rio não dá mais nada. Como o senhor me explica estes peixes que o senhor tirou d' água? ! -Você não notou nada?
-Não. O quê?!
-O toque que dou na vara...
-Mas isso qualquer um faz, até por acidente.
-Não meu filho!Só eu consigo avisar aos peixes que algum dia eu devolvi ao rio que voltei para buscá-los.
-Como?
-Eu nunca pesquei na desova, nunca usei explosivos ou redes e sempre devolvi os pequenos ao seu berçário. Nós temos que ter conhecimento que se não preservarmos o rio. Adeus...
Fausto ficou pensativo... Enquanto isto o velho enrolou sua linha, guardou os seus anzóis cuidadosamente e embarcou, remando como veio e sumiu na curva do rio sem dizer mais uma única palavra. Fausto ficou ali, estático ao ver sumir"O VELHO DO RIO."
Marcondes Filho
Bacana você fazer isso para seu pai.
ResponderExcluirPrazer te conhecer.
Oi Jaque!! Vi sua mensagem lá na comu do orkut q segue quem te seguir rs, tenho dois blogs o http://mulherdfases.blogspot.com/ e o http://maniadebonjovi.blogspot.com/ obrigada!! Ahh!! e amei seu blog super criativo bjsss
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