terça-feira, 14 de setembro de 2010

A MORTE LHE FOI A SORTE



Mas é verdade. Foi mesmo para Deusdeth...Ou será que não acreditarão?

Mas saibam...



Nem todo mundo tem o privilégio de um dia se sentir como um vencedor. A maioria sempre passam por perdedores simplesmente por não saberem agir. Os verdadeiros vencedores sempre agem com determinação e com o raciocínio, mas infelizmente existem aqueles que para eles nada dá certo e sempre acham que o destino é o único culpado por maus momentos ou por falta de sorte. Aliás,eles nunca conseguem vencerem em nada, porém nunca notam que o fracasso é intrínseco ao próprio comportamento. Estas pessoas usam e abusam de serem descuidadas nos menores detalhes e sempre acabam sendo menosprezadas pelo sucesso, até mesmo quando se propõem a um trabalho informal lhes falta determinação e certos cuidados, e por isso acabam sempre dando mal.
Mas não foi o que aconteceu com Deusdeth. Em uma pré-avaliação podia-se notar que era com um risco já avaliado que ele veria ir pelo ralo logo no primeiro dia sua esperança de conseguir trabalhar na marginalidade com produtos que acabara de buscar no Paraguai.
Depois de conseguir um ponto com dificuldade para instalar sua banca vem a fiscalização e leva toda a mercadoria. Deusdeth ainda tentou argumentar que era o único lastro que tinha para a subsistência dele e da família, mas não lhe dão importância, alojam a mercadoria na camionete e desaparecem por entre o louco trânsito da grande cidade. Desolado, Deusdeth volta à família de mãos abanando e inconsolável. Não lhe valera o primeiro dia de uma esperança agora falida. Pensara em começar na marginalidade empresarial até as coisas melhorassem. Jurara que seria por pouco tempo e que logo iria abrir um pequeno negócio. Porém um dia não é igual a outro, se um dia for mau, porque o outro não ser bom? A sorte lhe bateria à porta, mas de maneira incrédula no dia seguinte.
Estava Deusdeth sentado em um banco da praça que fica frente a sua casa quando no sinaleiro parou um carro, daqueles que quem não tem, a sonhar vem. O certo é que ficou boquiaberto de ver a máquina...De repente



- Ó moço... Eu estou precisando de uma orientação, você poderia me ajudar?- Perguntou o condutor do veículo



- Pois não!- Prontificou-se Deusdeth ainda olhando encantado para o carro



- Eu preciso chegar ao “Espera Feliz”... Você poderia me orientar?-Perguntou o homem que dirigia a maravilhosa máquina.



- Chegar ao cemitério?-Perguntou incrédulo. O que iria querer uma pessoa no cemitério depois de ter sido encerrado o horário ao público e mais, nem era dia de finados.O que iria querer?



- Por favor,poderia me orientar? Tenho um compromisso lá daqui a pouco mas não sei onde fica.



- Poder até que posso, só que é difícil chegar lá. O que tem de esquina pra dobrar e desdobrar, não lhe será fácil, tanto que acho difícil para o senhor por parecer não ser meu conterrâneo. Mas se quiser arriscar, posso até tentar ensinar o caminho.



- E se o você fosse comigo? Acho que não lhe seria difícil conduzir-me.



- Claro que não. Mas não devo...Estou chegando em casa depois de uma peregrinação muito cansativa...Currículos pra uns, entrevistas com outros e nada!



- Eu entendo, conseguir trabalho está difícil mesmo... É muito longe o Cemitério?



- A pé não é perto. Mas neste carro fica logo ali...-Cada vez que Deusdeth olhava para o carro seu olhar ganhava em brilho e dava para notar.



O Condutor notando o fascínio de Deusdeth pela Ferrari...Propõe



- Que tal você vir comigo... Se dispuser dou-lhe este carro de papel passado.



- Ora meu! Isto é brincadeira...O senhor esta de gozação?!-



- Não...É sério! Eu jamais brincaria com uma coisa destas. Porque não confere?



- Ou o senhor é louco ou então esta pilheriando comigo. Onde já se viu tirar sarro de uma pessoa que nem conhece. Vá caçar seu rumo...Seu filho da p.



- Olhe o respeito! Você sabe com quem esta falando?



- Não sei! Mas seja quem for, não estou dando a mínima para a sua importância.



- Mas pode ir se assustando...Pois sou a morte, estou me anunciado e não há como fugir de mim!–Disse o estranho homem com voz abismal que ainda não havia sido percebida. Por um momento causa arrepios em Deusdeth, mas aos poucos ele recobra a vivência natural.



- Ah! Deixe de bobagem. A mascara da morte não tem a sua cara, não anda de carro e nem lhe cai bem.



- Você já a viu? Eu tenho muitas caras e uma delas é esta mesmo que não lhe assuste.



- Que panaquice! Quer saber o que estou pensando? Eu vou te levar ao cemitério só para provar que não acredito nestas coisas.



- Pois bem! Então entre no carro...- A Morte deixa o volante e senta-se no banco do carona.



- Bem, se esta falando a verdade, que é a morte, então este carro poderá ser mesmo meu.



- Poderá não...Será! Mas fico triste por você. Você só vai possuí-lo por uns minutos. Sua hora esta próxima. Pode se apossar do veículo e pode ir despedindo desta vida de contrates. Tome o carro, o volante é todo seu... Pena que será um gostinho efêmero, mas não deixará de ter o seu sabor.



- “Ele diz que minha hora chegou, será? Não acredito! E como será a face da morte... A dele? Não dá pra acreditar em nada. Vou dar corda ao cara para ver onde vai dar esta brincadeira." – Deusdeth refletiu e estava decidido a continuar o que achava ser uma brincadeira



- Não perca tempo filho... o tempo urge!



- Então esta pronto para me levar? Eu, um jovem de 34 anos, que tem família, sadio que nem cerne de madeira de lei... vocês não tem dó?



- Hora é hora, filho. A sua chegou!



- Ah, já sei! Vocês imaginam levar mais um, chegam, dão uma olhadela e, “É Este...Pronto,
é findo”!



- Não é bem assim. No seu caso já estava estabelecido um datamento pré determinado. Só estava faltando a hora. Que ficou resolvida hoje.



- Então se o dia é hoje, a que horas eu devo partir desta para melhor?- Perguntou Deusdeth que mais uma vez se deslumbrava, só que com o interior do veiculo.



- Às 18 horas. A não ser que venha acontecer algo que interceda no planejamento elaborado para seu destino. E você não tem chance... eu estarei por perto.



- Explique melhor.



- Caso lhe aconteça alguma coisa que não esta em nossos planos, você se safará. Somente nesta hipótese haverá uma nova chance. Serão no mínimo mais 34 anos de vida.



- Pouco... Mas tudo bem! Então vamos em frente. Mas me diga uma coisa, este carro já esta em meu nome?



- Ainda não! Mas bastará você girar a chave na ignição para descobrir. -Deusdeth gira a ignição, olha para os documentos, como por mágica o seu nome aparece Instantaneamente. Então pela primeira vez acreditou estar frente a frente com a morte, mas não desesperou, ao contrário, interessou-se: - Que carro é este?



- Uma Ferrari S 320, zero.- Diz-lhe a face da morte



- É meu mesmo?



- Você não viu os documentos?



- Claro...claro! Quantas horas são agora?



- 17:58...



- Quer dizer que só tenho 2 minutos de vida?



- Somente isto, e como já lhe disse, você só de safará se não acontecer nada de impróprio ao nosso planejamento. Pena que você conversou demais. Poderia ter aproveitado este carro mais uns minutos.-Condoeu-se a Morte



- Conversei o necessário...



- Como?..



- Nada... - Respondeu displicente. A Ferrari havia ganhado velocidade, 120, 140, 170,200, 240... 18 horas... um poste. A Morte ainda tentaria impedir



- Freie a Ferrari...Não tem o direito de me vencer..Pareeeeeeeeeeee



Trummmmmmmmmm, naquela tarde/noite houve um acidente em uma Rua próxima ao “Espera Feliz”, mas nada de sério acontecera ao motorista, apenas uma Ferrari fora destruída mas como estava com o seguro em dia...É provável que nada de mal acontecerá ao futuro de um homem com o raciocínio em dia!



Deusdeth passa a mão na testa, apenas um arranhão. Bem, um homem acabara de vencer a morte!



FIM

Marcondes Filho

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