Ah tempo bom
De Festa Junina.
Hoje bem mais notória em Caruaru
Em Campina Grande.
Mas, me digam
Onde estão hoje
As Festas Juninas de minha infância?
Das donzelas bonitas
Dentro de vestidos rodados
Todo com remendos
Enfeitado com tanta estampa
Que dava charme
Quando a moça segurando a bainha
Rodopiava pela terra batida do meu coração
Fazendo meu coração palpitar feito taquicardia
Ah noite fria
Antes das estrelas e da lua
Sobre meu chapéu de palha
As bandeirolas do meu sertão
Multicores em cordéis espalhados pelo terreiro
Cruzavam todo céu estrelado.
E do alto do mastro
A bandeira do Santo abençoava;
Era Santo Antônio
Casamenteiro para as donzelas sonhadoras.
São João E São Pedro
Para sertanejos de muita fé.
Mas bom demais mesmo
Era a quadrilha
A singeleza das donzelas
Seguindo a marcação
Pelos braços de seus pares.
E de refrão em refrão
A música animava
E levava de roldão Rostos, creon...
Faziam Bigodes e barbas
Em rostos cavalheiros.
Tinha até padre
Para o casamento na roça;
Um Pai: Um velho coronel sem patente
Protegendo sua cria
Até que pegassem o anel
Em pau de sebo bem untado
Para ganhar então a mão da donzela
E depois dançavam a noite inteira
Ao som da velha sanfona
E da toada do cantador:
Até canto de Quadrilha se ouvia “Caminho da roça...”
- Lá vamos nós... “Olha a cobra aí”
-Vamos fugir “É chuva na roça” -
Vamos molhar “Todo mundo pra paioça” -Pra namorar.
E seguia a cantoria.
Ah que brincadeira boa!
Era tão inocente
Sem muita... Como se diz, Preparação!
Mas funcionava bem.
Não era festa de salão
Que até tinha em algum lugar.
Mas não me apetecia.
Festa que me cativava
Era sempre no bom e velho quintal
Onde a fogueira ardia até o amanhecer.
Em minha lembrança
Sempre estará presente; Tinha quentão, Pipoca, Canjica,
Amendoim bem torradinho.
Milho verde na brasa E não podia faltar A doce batata
Envolta na cinza da fogueira Pra assar e depois...
Ah tempo bom, acredite
O homem ainda soltava balão
E era balão pequeno Parecia até inocente pelo tamanho
Tanto e quanto A inocência do sertanejo
Que era tão grande
O ponto desta simplicidade
Que no outro dia
O incauto peão acabaria por dizer: “Num sei como meu pasto pegou fogo”!
Mas logo depois recuperaria o verde
Com a primeira chuva que viria
Pronta para anunciar
O tempo das geadas
Já que o frio já chegara
Quase sem notar.
O sertanejo então batia o fogo que restava
Causado pelo pequenino balão
E como simpatia
Não sei pra quê
E nem sei se conseguia
Nem mesmo
Um sorriso faceiro de alguma Maria
O certo é que, pouco depois
Sapateava pelas brasas
Das fogueiras de São João.
Mas era de uma pura inocência
E crendice até na alma.
Pior é hoje o moderno balão
Feito por rebeldia
Que queima até Refinaria.
Que sobe majestoso
Mas que cai sobre residências e hospitais e é tormento
Não escolhe lugar pra cair
É mais que um folguedo inocente
É destruição iminente
Caindo sem destino!
Ah que saudade de minha juventude
Das festas juninas da minha infância
Da velha sanfona
E de um pequeno balão
Que graças a Deus...
Não subiu!
Marcondes Filho
nunca gostei de festa junina, mas é uma cultura muito forte aqui no brasil.
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